Melhores madeiras para fazer Cajon - construção, timbres, harmônicos em diferentes sons, medidas, tamanho do furo e esteira

Quais são as melhores madeiras para fabricação do Cajon?

As propriedades principais na construção do Cajon em relação a seus tímbres e harmônicos para diferentes freqüências de som,
Suas medidas e tamanho do furo do Cajon e segredos na colocação da esteira para efeitos nos agudos.

Aqui vai um pouco mais de informações e estudos técnicos realizados na Faculdade de Tecnologia de Brasília, junto ao departamento de Engenharia Florestal, para dar à você condições para escolher e entender quais as principais diferenças entre cajones e características na construção de um cajon.


Universidade de Brasília

Faculdade de Tecnologia

Departamento de Engenharia Florestal


AVALIAÇÃO DE NOVAS ESPÉCIES MADEIREIRAS

NA FABRICAÇÃO DO CAJÓN


SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Madeiras para Instrumentos Musicais
2.2 Trababilhidade das Madeiras
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 O Instrumento
3.2 Seleção das Amostras de Madeira
3.3 Compra das pranchas de madeira
3.4 Construção do Instrumento
3.4.1 Montagem do instrumento
3.5 Análise das Propriedades Acústicas
4. RESULTADOS e DISCUSSÃO
4.1 Estudo das propriedades físicas e mecânicas
4.2 Análise do corte da madeira
4.3 Análise das propriedades acústicas
4.31 Escolha das espécies
4.3.2 Teste de timbre
5. CONCLUSÕES
6. AGRADECIMENTOS
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LISTA DAS TABELAS
Tabela 1. Dimensões das pranchas de madeira compradas no Mercado
Tabela 2. Propriedades físicas e mecânicas das espécies selecionadas
Tabela 3. Resultados de tração, resistência ao impacto e trabalhabilidade das
espécies selecionadas.

LISTA DAS FIGURAS
Figura 1. Exemplo de cajón cubo e cajón
Figura 2. Cajón sendo tocado
Figura 3. Visão geral de um cajón em cubo
Figura 4. Pranchas em freijó sendo coladas
Figura 5. Dimensões cajón
Figura 6. Peça em freijó sendo pregada após colagem
Figura 7. Peça em freijó após montada
Figura 8. Marcação do furo
Figura 9. Furadeira e serra tico-tico abrindo furo de 12 cm
de diâmetro em peças de ipê e freijó respectivamente
Figura 10. Acabamento com lixa
Figura 11. Esteiras sendo fixadas à tampa do cajón
Figura 12. Mecanismo usado nas gravações do cajón
Figura 13. Cajon em freijó
Figura 14. Cajon em ipê
Figura 15. Cajon em marupá
Figura 16. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Marupá. Freqüência
principal em 103 Hz
Figura 17. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Ipê. Freqüência principal
em 92,513 Hz
Figura 18. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Freijó. Freqüência
principal em 85,785 Hz
Figura 19. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Compensado. Freqüência
principal em 77,039 Hz
Figura 20. Onda produzida pelo cajón em Marupá
Figura 21. Onda produzida pelo cajón em Ipê
Figura 22. Onda produzida pelo cajón em Freijó
Figura 23. Onda produzida pelo cajón em Compensado
Figura 24. Comparação de decaimento para os 4 Cajones

RESUMO

A caixa cajón, ou apenas cajón como é mais conhecido, é um instrumento
musical de percussão diferenciado pelas suas possibilidades sonoras. O presente
trabalho tem como objetivo principal a seleção de espécies madeireiras
amazônicas, para a fabricação do instrumento, no intuito de testar a qualidade
destas espécies na produção dos mesmos. Foram selecionadas três espécies
com base na massa específica: baixa, média e alta (marupá – Simarouba amara
Aubl., freijó - Cordia goeldiana Huber, ipê - Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols.
Foram efetuados dois estudos com estas espécies: fabricação e avaliação do
instrumento cajón e análise das propriedades acústicas. Para execução,
fabricaram-se corpos do cajón com as madeiras selecionadas e montaram-se os
instrumentos completos. Os resultados mostram que todas as madeiras
selecionadas foram aptas para a fabricação do instrumento cajón sendo que o ipê
- Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols, por possuir uma alta massa específica, se
mostrou de difícil trabalhabilidade. Os testes acústicos mostraram que o freijó -
Cordia goeldiana Huber é a espécie mais indicada para o propósito.

ABSTRACT

EVALUATION OF NEW WOOD SPECIES

IN THE MANUFACTURE OF THE CAJÓN


The box cajón, or just cajón, is a musical instrument of percussion
differentiated for its sonorous possibilities. The present work has as main objective
the selection of Amazonian wood species, for the manufacture of the instrument,
aiming to test the quality of these species. Three species had been selected on the
basis of the specific gravity: low, average and high (marupá – Simarouba amara
Aubl., freijó - Cordia goeldiana Huber, ipê - Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols.
Two studies with these species had been conducted: manufacture and evaluation
of the instrument cajón and analysis of the acoustic properties. For execution,
bodies of cajón with the selected wood species had been manufactured and
mounted the complete instruments. The results show that all the selected wood are
apt for the manufacture of the instrument cajón. Due to the high specific gravity, ipê
(Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols), showed difficult to work. The acoustic tests
showed that freijó (Cordia goeldiana Huber ), is the best indicated wood species.

1 INTRODUÇÃO

Quando escravos africanos foram trazidos ao Novo Mundo, como acontece a
toda pessoa que é levada de seu ambiente, estes sentiram a necessidade de
relembrar os costumes existentes em suas terras de origem. Na África falar de
música é falar de percussão e é possível que durante estas viagens surgiram o
instrumento cajón.
Na época a colonização peruana, os escravos já imprimiam suas músicas, no
qual ao longo dos séculos, combinaria em versatilidade de manifestação e
múltiplos ritmos e harmonia. O investigador e folclorista argentino Carlos Castro
diz que os africanos que viveram no Peru durante os séculos XVIII e XIX,
especialmente os da costa do Pacífico, usavam também em suas festas, caixas de
frutas e de outros tipos de alimento que encontravam no porto de Callao (Lima). E
que as estas caixas prendiam-se tábuas com o objetivo de produzir mais vibração
na madeira (RCPAL, 2006).
O cajón é então um instrumento de percussão latino-americano. O
instrumento foi aperfeiçoado no Peru durante décadas e foi levado, nos anos 70, à
Espanha, adaptando-se às necessidades e costumes musicais europeus (EL
CAJON PERUANO, 2006). O cajón (pronuncia-se carrón), foi criado para substituir
a idéia do timbatera, ou seja, com um só instrumento o percussionista pode fazer
a combinação de vários sons (ORIGEM CAJON, 2006). Dos diversos modelos de
cajón existentes, os mais utilizados são o cajón cubo e o cajón obl, como
mostrado na Figura 1. O cajón cubo favorece a execução de sons graves,
enquanto o cajón obl produz sons mais agudos.
O cajón consiste de uma caixa de madeira, com uma tampa em laminado,
onde o percussionista golpeia com as mãos para que seja produzido o som
(HISTÓRIA DO CAJON, 2006). O instrumento é tocado sentando-se em cima do
mesmo, golpeando a parte superior da tampa dianteira produzindo tons agudos e
batendo no centro da tampa produzindo os graves (FAT CONGAS, 2006) Figura 2.
O cajón pode possuir algumas cordas (ou esteiras em aço), geralmente as
mesmas usadas em um violão, para que seja produzidos outros sons agudos e
graves. É possível fazer diversos arranjos com o cajón, desde um simples
acompanhamento à um batuque mais elaborado. O instrumento tem sido muito
usado para acompanhar diversos estilos musicais como flamenco, funk, samba,
reggae, blues, bossa nova, rock entre outros.(MANUFATURA, 2006)

Figura 1 Exemplo de cajón cubo
Figura 1. Exemplo de cajón cubo e cajón
(Fonte: modelo OBL, retirado do site: http://www.cajon.blogger.com.br/HistoriaCajon.jpg)

Figura 2 como tocar cajón 
Figura 2. Cajón sendo tocado.
O objetivo geral deste trabalho foi selecionar e testar 3 espécies madeireiras
da Amazônia, dentre as centenas já estudadas pelo Laboratório de Produtos
Florestais (LPF), para verificar seus potenciais para a fabricação do instrumento.
Das espécies selecionadas foram estudados os seguintes aspectos:
1. Fabricação e avaliação do cajón.
2. Análise das propriedades acústicas.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
Dentre as centenas de espécies florestais bem conhecidas no mundo,
poucas são efetivamente utilizadas em instrumentos musicais. Isto porque existe
um forte tradicionalismo por parte dos fabricantes e luthiers de instrumentos
musicais que utilizam uma pequena quantidade de madeiras, as quais têm seu
uso para partes específicas em cada instrumento (SOUZA, 1983; ANAFIM, 2003).
Esse tradicionalismo somado com a escassez dessas poucas espécies tem
onerado significativamente o valor dessas madeiras no mercado internacional.
(ANAFIM, 2003)
Há anos, o Brasil tenta diminuir à importação de madeiras para a fabricação
de instrumentos musicais devido às excelentes alternativas existentes em nossas
florestas. Isto está sendo possível graças ao Projeto “Avaliação de Madeiras
Amazônicas para Utilização em Instrumentos Musicais” coordenado pelo IBAMA.

2.1 MADEIRA PARA INSTRUMENTO MUSICAL
Segundo Souza, 1983; Slooten, 1993; Bucur, 1995; Pearson, 1967 as
madeiras mais utilizadas hoje na confecção de instrumentos musicais e suas
partes principais para percussão são:
Baqueta: "hickory" (Carya spp.), “maple” (Acer spp.), oak (Quercus spp.),
bétula (Betula spp.), faia (Fagus spp.), ébano (Dyospirus spp.).
Baterias, conga e bongôs: maple (Acer sp.), mogno (Swietenia macrophylla),
bubinga (Guibourtia demeusei), “ash” (Fraxinus sp.).
Sobre as propriedades ideais para as madeiras utilizadas em instrumentos
musicais, citam-se (SOUZA, 1983; BUCUR, 1995):
Tampo harmônico a tábua harmônica:
Baixa massa específica, alto módulo de elasticidade, grã direita, boa
trabalhabilidade, boa estabilidade dimensional, boa para colagem e bom
acabamento final.
Fundo:
Não muito pesada, sem restrições quanto às propriedades mecânicas, boa
trabalhabilidade, boa para colagem, bom acabamento a boa estabilidade
dimensional.
Corpo de oboé a clarineta:
Boa estabilidade dimensional, textura fina, grã direita, bom peso, bom
acabamento, fácil de furar a tornear e, preferencialmente de cor negra.
Corpo de flauta a fagote:
Não muito pesada, textura fina, boa estabilidade dimensional, grã direita,
bom acabamento, fácil de furar e tornear.
Arco para violino:
Alto módulo de elasticidade em flexão (acima de 200.000 kgf/cm²), grã
direita, textura fina, alta resistência à ruptura em flexão.
As principais características das madeiras para utilização em instrumentos
musicais segundo Souza (1983); Bucur (1995); Slooten (1993); Teles (2004);
Fagundes (2003); Fernandes (2004) e Pearson, (1967) para percussão são:
- massa específica acima de 0,50 g/cm3, decaimento logarítmico abaixo de
0,030, freqüência de ressonância acima de 150 Hz e velocidade de propagação
sonora acima de 4.000m/s.
A madeira é o elemento natural utilizado no cajón, ela interage com o
músico, recebendo nossos estímulos, e de acordo com o tipo de madeira usada,
tem resistências e diferentes propriedades de absorção do som e do choque,
produzindo uma resposta única a cada estímulo. Esta resposta se chama “rebote”.
Na elaboração deste instrumento costuma-se utilizar diversos tipos de
madeira. As madeiras mais utilizadas em percussão são o maple (Acer sp.) e o
mogno (Swietenia macrophylla (King)). Para o cajón costuma-se usar também a
sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn); curupixá (Micropholis venulosa ( Mart &
Eichl. ) Pièrre); compensados; embuia (Ocotea porosa (Mez) L. Barroso); cedro
rosa (Cedrela fíciilis Vell.).
As características ideais da madeira para fabricação do cajón se enquadram
as mesmas características gerais para instrumentos de percussão.

2.2 TRABABILHIDADE DE MADEIRAS
Na fabricação de instrumentos de percussão, em geral, costumam-se
priorizar madeiras de boa trabalhabilidade, ou seja, com ótimas propriedades de
acabamento e trabalho em máquina de plaina, torno, lixa e broca.
O estudo da trabalhabilidade da madeira visa melhorar o conhecimento da
matéria prima madeira, em particular as suas propriedades de acabamento e
trabalho em máquina de plaina, torno, lixa e broca. (STERNADT, 2001).
A melhora contínua da produtividade é essencial para a indústria de produtos
da madeira. A seleção da espécie mais indicada para o seu produto, as máquinas
adequadas e, o uso eficiente das ferramentas, pode levar a eficiência empresarial
dentro de uma indústria. Além disso, o conhecimento das propriedades da
matéria prima madeira, as propriedades de trabalhabilidade, são importantes para
a redução dos custos operacionais.
A facilidade com que a madeira é trabalhada, o acabamento superficial que
apresenta após ser usinada (com auxílio de máquina ou com ferramentas
manuais), é uma importante propriedade referencial para avaliar o uso da espécie
da madeira.
Uma madeira dita como sendo fácil de trabalhar significa realizar o trabalho e
obter um bom acabamento sem esforços excepcionais, e isto tem implicações
econômicas em uma indústria, onde cada operação é feita milhares de vezes
durante o ano para fabricar determinado produto. (STERNADT, 2001).
As características da madeira são únicas, frente a outros materiais como o
ferro, alumínio, cimento, plásticos e outros.
O trabalho com madeira em máquina tem dois processos básicos de corte:
periférico e ortogonal.
Segundo Wengert (1998) o corte periférico é definido como o corte
intermitente das facas da periferia de um rolo de facas ou serra. A serra circular,
plainas desempenadeiras, plainas moldureiras e tupias possuem corte periférico.
O corte ortogonal é definido como a ação intermitente das facas na extremidade
de um rolo de facas ou serra em ângulo reto ao topo do material a ser usinado (do
grego orthos, reto e, gonia, ângulo). A serra de fita e a plaina manual são
exemplos de corte ortogonal.
A madeira é anisotrópica, podendo ser usinada em diferentes planos e de
diferentes maneiras, em razão da direção e sentido de ataque da ferramenta em
relação às fibras. Leitz (2001) definiu que se pode trabalhar a madeira longitudinal
e, transversalmente e no topo, conhecendo previamente suas peculiaridades.

3 MATERIAIS E MÉTODOS:
Não existe um método específico usado na construção do cajón. No mercado
podemos encontrar estes instrumentos em várias medidas e formatos. O modelo
usado neste trabalho foi baseado em uma metodologia utilizada pela empresa
Ocaña Artesania.

3.1 O INSTRUMENTO
Cajón cubo
Trata-se de cajón de formato cúbico. O seu formato favorece a execução de
sons graves. O modelo cúbico bastante usado na dança flamenca, possui um furo
no fundo de 12 cm de diâmetro. A tampa parte frontal, possui espessura de 4 mm
e as demais chapas possuem espessura em média de 1,5 cm. Na Figura 3 temos
um modelo de cajón em formato de cubo.

figura 3 visão tridimensional do cajón
Figura 3. Visão geral de um cajón em cubo.
Fonte: www.ocanartesania.com

3.2 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS DE MADEIRA
A seleção das madeiras para o cajón seguiu basicamente dois critérios:

1. As madeiras selecionadas possuem massa específica variável.
- Uma espécie de baixa massa específica (marupá - Simarouba amara Aubl.);
- Uma espécie de média massa específica (freijó-Cordia goeldiana Huber );
- Uma espécie de alta massa específica (ipê-Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols.).

2. A madeira deve ter boas características de trabalhabilidade e usinagem,
aceitando bem cola, corte, furos, pregos, lixas sem grandes dificuldades.

3.3 COMPRA DAS PRACHAS DE MADEIRA
No mercado é muito difícil encontrar as pranchas em madeira nas dimensões
desejadas, por isso, optou-se por comprá-las nas medidas que satisfizessem a
construção do instrumento. As dimensões encontradas das espécies estão
mostradas na Tabela 1. Aquelas que não foram encontradas na largura mínima de
construção (32 cm), como foram os casos do marupá e do freijó, tiverem que ser
coladas conforme visto na Figura 4.

Figura 4 Pranchas em freijó sendo coladas
Figura 4. Pranchas em freijó sendo coladas.
Tabela 1. Dimensões das pranchas de madeira compradas no mercado.
Espécie Peças Largura Espessura Comprimento
Ipê 1 33 4 210
Freijó 1 19 4 382
Marupá 2 22 4 195


3.4 CONSTRUÇÃO CAJON E AS PROPRIEDADES DO INSTRUMENTO

Inicialmente as peças de madeira foram desbastadas com ajuda de uma
desengrossadeira, até que chegasse à espessura desejada de 1,8 cm. Este
procedimento foi realizado na marcenaria da Universidade de Brasília.
A seguir as peças foram cortadas em dimensões pré-estabelecidas, vide
Figura 5, seguindo a metodologia adotada pela empresa Ocaña Artesania (2006),
Figura 5 tamanho cajón
Figura 5. Dimensões cajón.
Para o corte e acabamento foram usadas serra “tico-tico”, furadeiras e tupias
da marca Makita.

3.4.1 Construção do Cajon e Montagem do instrumento
Após cortar as peças nas medidas desejadas, iniciou-se então o processo de
montagem do instrumento. Neste cajón utilizou-se cola da marca Cascorez, para a
colagem, apresentando bom rendimento.
Como forma de aumentar a resistência do instrumento, utilizou-se pregos
para dar reforço a estrutura. Para o cajón em ipê, ao invés de pregos, utilizou-se
parafusos com objetivo de evitar entortamentos.
Figura 6 madeira cajon freijó pregada após colagem
Figura 6. Peça em freijó sendo pregada após colagem.
Figura 7 madeira construcao cajon freijó
Figura 7. Peça em freijó após montada.
Para fazer o furo na parte anterior do instrumento, utilizou-se de uma
furadeira e uma serra do tipo “tico-tico”. O furo possui um diâmetro de 12 cm e
deve ser localizada na metade da parte superior traseira. (ver Figura 5).
Figura 8 posicao e tamanho do furo cajon
Figura 8. Marcação do furo.
Figura 9 fazendo furo de cajon 12 cm de diâmetro
Figura 9. Furadeira e serra tico-tico abrindo furo de 12 cm de diâmetro em peças de ipê e freijó respectivamente.
Para o acabamento dos três instrumentos utilizaram-se lixas de grana
variada. Quando se inicia com uma lixa na madeira, a próxima lixa deve ter uma
grana no máximo 50% maior que a grana da lixa anterior e o procedimento se
repete quantas vezes forem necessárias até atingir o resultado desejado.
No tratamento, preservação e embelezamento da madeira utilizaram-se um
tingidor da marca Sayerlack e em seguida a seladora também da mesma marca.
Após a aplicação da seladora é necessário lixar novamente, para tirar “as fibras
levantadas” que fica na madeira. Para este fim utilizam-se lixas de grana entre 280
e 360.
Figura 10 acabamento cajon lixa
Figura 10. Acabamento com lixa
Após o acabamento inicia-se o processo de fixação das esteiras na tampa do
instrumento. As esteiras possuem 12 cordas e são usadas para dar ao cajón um
som tipo “caixa de bateria” e foram coladas com silicone secagem a frio.

Figura 11 cajon com esteiras na tampa
Figura 11. Esteiras sendo fixadas à tampa do cajón.
3.5 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES ACÚSTICAS
Em instrumentos musicais os testes acústicos em amostras de madeiras não
são definitivos para a escolha de uma espécie. Os testes são um indicativo do
potencial e das possibilidades dos instrumentos. Somente após a construção do
instrumento associado a um teste por um músico poderá dizer em definitivo se
uma determinada espécie é apta. Portanto, adotou-se nesse projeto a idéia de
construir os instrumentos e testá-los em um estúdio por um músico profissional.
Os testes acústicos em instrumentos acabados são caros, pois requer
pessoal e equipamento, como microfone, computadores e programas de análises
muito sofisticados.
O teste acústico foi realizado da seguinte maneira: foi desenvolvido um
sistema de pêndulo que era levantado e solto à alturas fixas e que batia no centro
do instrumento, como mostrado na Figura 12. Para cada um dos instrumentos
repetiram-se 20 vezes os procedimentos. Os testes foram gravados em estúdio
profissional (estúdio Odisséia) equipado com microfone Behringer B1 (Alemão),
um computador AMD Athlon XP 3200+ e uma mesa de som Behringer Eurorack
UB1002. O software de gravação foi o Cubase versão 3. Os sons foram gravados
em CDROM no formato WAV. O teste de timbre foi procedido através de uma
análise chamada “Fast Fourier” (FFT) feita pelo programa Cool Edit Pro . A análise
FFT determina o timbre do instrumento através dos harmônicos. Esta foi gravada
graficamente e os resultados comparados para as três espécies.
Figura 12 esquema gravacao som do cajón
Figura 12. Mecanismo usado nas gravações do cajón.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS
As madeiras selecionadas para este trabalho baseiam-se nos estudos já
realizados pelo Laboratório de Produtos Florestais (LPF), localizado no IBAMADF.
As propriedades físicas e mecânicas das madeiras das espécies selecionadas
estão presentes na Tabela 2.
A Tabela 3 apresenta os dados de trabalhabilidade,
tração e resistência ao impacto.

Propriedades Físicas Propriedades Mecânicas
Nome comum Massa
específica
(g/cm³)
Contração (%) Flexão estática (kgf/cm²) Dureza janka seca (kgf)
RAD TAN VO T/R MOR MOE PAR TRANS
Freijó-verdadeiro 0,48 4,1 6,6 10,6 1,61 932 104000 608 452
Ipê 0,89 4,7 6,3 10,1 1,34 1726 131000 1480 1406
Marupá 0,38 2,6 5,9 8,8 2,27 664 82000 439 267
Tabela 2. Propriedades físicas e mecânicas das espécies selecionadas.
MOR - módulo de ruptura; MOE - módulo de elasticidade; PAR – paralela;
TRANS - transversal


Trabalhabilidade
Nome comum Tração perpend Resistencia impacto Testes
(kgf/cm2) (mm) Aplainamento Torno Broca Serra
Freijó 31 1264,7 fácil / bom X X fácil
Ipê 39 3430,6 fácil / bom fácil / ótimo fácil / ótimo X
Marupá 28 741 fácil / ótimo Ruim fácil / ótimo fácil / ótimo
Tabela 3 Resultados de tração, resistência ao impacto e trabalhabilidade das espécies selecionadas.

4.2 ANÁLISE DO CORTE DA MADEIRA

Um requisito básico para se determinar se uma espécie de madeira é
adequada para um uso determinado, é o conhecimento e a análise de suas
propriedades durante a usinagem. Estas características incluem cerramento,
desengrosso, torneamento, lixamento e furação. Algumas dessas operações
podem ser encontradas no processamento primário e outras principalmente no
processamento secundário da madeira.
A partir do resultado exposto na Tabela 3 podemos descrever as espécies
trabalhadas da seguinte maneira:


• Freijó ( Cordia goeldiana)
Madeira moderadamente pesada; Madeira fácil de desdobrar, boa de
aplainamento e para colagem; fixação de prego um tanto regular.
Os resultados para todas as espécies foram bons, sendo que o ipê, por ser
extremamente denso, portanto, duro e pesado, mostrou-se mais resistente ao
corte. Esta característica aumenta a energia requerida para processá-lo e acelera
o desgaste das ferramentas de corte, das máquinas.
Figura 13 Cajón em freijó
Figura 13. cajón em freijó
• Ipê (Tabebuia serratifolia (VANI) NICH)
A madeira é moderadamente difícil de serrar e de aplainar. Para pregar e
aparafusar recomenda-se uma pré-furação, para evitar rachaduras e entortamento
de pregos. A madeira recebe bom acabamento.
Figura 14 Cajón em ipê
Figura 14. cajón em ipê
• Marupá (Simarouba amara AUBL.)
A madeira é fácil de serrar, aplainar, pregar e aparafusar. Recebe bom
acabamento.
Figura 15 Cajón em marupá
Figura 15. cajón em marupá

4.3 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES ACÚSTICAS


4.3.1 Escolha das espécies:
A espécie que apresentou maior potencial para fabricação do cajón foi o
freijó. Essa espécie se comportou muito bem durante o processo de usinagem,
esteticamente é bem aceitável e possui boa estabilidade.
4.3.2 Teste de timbre:
Podemos considerar que o timbre é como a impressão digital sonora de um
instrumento. Nos instrumentos musicais, os harmônicos são os responsáveis pelo
timbre.
Para efeito de comparação, foi testado um cajón em compensado,
comprado no mercado. Os resultados foram bem próximos dos construídos por
este projeto.

As Figuras de 16 a 19 mostram gráficos com os harmônicos de cada
instrumento na freqüência testada. O pico maior é a freqüência principal e os
demais, os harmônicos.
A escala vertical desses gráficos estão em decibéis (db) sem offset
(correção) que representa o nível (altura) real de cada harmônico. Faixas muito
grandes de razões de valores podem ser expressas em decibel em uma faixa
bastante moderada, uma das grandes vantagens desta unidade. O limite inferior
do ouvido humano é de aproximadamente 50 db, assim, picos abaixo desse valor
devem ser desprezados.
Comparando-se as espécies, pode-se verificar que houve uma pequena
diferença de timbre entre elas. Analisando os gráficos é possível perceber um
segundo pico para cada instrumento testado. Essas diferenças não inviabilizam os
instrumentos, apenas conferem uma característica diferente a cada um deles.
Todos foram considerados bons instrumentos.
Não é só a forma de onda que define que um som é produzido por
determinado instrumento, mas também a forma como o som se inicia se mantém e
termina ao longo do tempo. Esta característica é chamada envelope sonoro ou
envoltória sonora (WIKIPEDIA, 2006). O envelope é composto basicamente de
quatro momentos: Ataque, decaimento, sustentação e Relaxamento.

Nas Figuras 20 a 23 podem-se ver a estrutura de onda para os Cajones.
Percebe-se claramente como o som surge quase instantaneamente após a batida
no instrumento pelas mãos do executante e como cada nota tem uma duração
muito curta, esse tipo de onda é característico de instrumentos de percussão.
A partir desta onda, pode-se calcular o decaimento de intensidade em cada
um dos instrumentos após o ataque produzido pelo músico. Como pode ser visto
na Figura 24, o marupá sofreu maior decaimento enquanto que o freijó mostrou-se
o melhor dos quatro instrumentos analisados.
Figura 16 teste de timbre harmônicos frequencia 103hz para Marupá
Figura 16. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Marupá. Freqüência
principal em 103 Hz (G#2).

Figura 17 teste de timbre harmônicos frequencia 92hz para Ipê 
Figura 17. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Ipê. Freqüência
principal em 92,513 Hz (F#2).

Figura 18 teste de timbre harmônicos frequencia 85hz para Freijó
Figura 18. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Freijó. Freqüência
principal em 85,785 Hz (F2).

Figura 19 teste de timbre harmônicos frequencia 77hz para Compensado
Figura 19. Resultado do teste de timbre (harmônicos) para Compensado.
Freqüência principal em 77,039 Hz (D#2).

Figura 20 Comprimento Onda produzida pelo cajón em Marupá
Figura 20. Onda produzida pelo cajón em Marupá.

Figura 21 Comprimento Onda produzida pelo cajón em Ipê
Figura 21. Onda produzida pelo cajón em Ipê.

Figura 22 Comprimento Onda produzida pelo cajón em Freijó
Figura 22. Onda produzida pelo cajón em Freijó

Figura 23 Comprimento Onda produzida pelo cajón em Compensado
Figura 23. Onda produzida pelo cajón em Compensado

Figura 24 analise de decaimento quatro modelos cajones
Figura 24. Comparação de decaimento para os 4 Cajones.

5 CONCLUSÕES:

A metodologia utilizada para a escolha das espécies, levando em conta à alta,
média e baixa densidade, mostrou-se surpreendente. Para uma variação na
densidade da madeira foram observadas variações nos timbres dos instrumentos
como mostra as Figuras de 16 a 19.
Isso não significa que um instrumento é melhor ou pior, mas mostra as possibilidades
de se trabalhar com diversos tipos de espécies madeireiras com diferentes densidades.
Todas as espécies selecionadas foram aptas para a fabricação do cajón.
O resultado da usinagem e trabalhabilidade da madeira para fabricação do cajón
mostrou-se mais satisfatória nas espécies com menor massa específica.
O IPÊ se mostrou de difícil trabalhabilidade mas os resultados estéticos surpreendem.
Pelos testes acústicos realizados em estúdio para as três espécies, conclui-se
que o FREIJÓ apresentou resultados satisfatório, sendo altamente indicada para a
fabricação do cajón.
 

Veja estes vídeos e entenda a diferença entre grandes estruturas de empresas que fabricam instrumentos musicais, e pequenos artesãos em produções feitas à mão.: o telento do artesão e madeira de excelente qualidade são inprescindíveis e insubistitutíveis! Ainda assim, repare as semelhanças

fabrica Fender California
fabrica Gibson NASHVILLE

fonte:
Por Lucas Cangussu Cavalcante
Orientador: Mário Rabelo de Souza – PhD, LPF/IBAMA
Co-orientador: Joaquim Carlos Gonçalez – PhD, EFL/UnB
Brasília 2006

 

6 AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, pois sem ele não estaria aqui para
poder contar qualquer coisa.
Agradeço á minha mãe, por ser a mulher que é, sempre me incentivando
em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis. Uma mulher fantástica
que sempre prezou pela minha educação e felicidade.
Ao meu pai, por toda força, incentivo e apoio dado em toda minha vida. Um
homem batalhador que sempre soube se portar mesmo nos momentos mais
difíceis, um grande exemplo em minha vida.
Ao meu irmão, sempre companheiro e que me ajudou a crescer como
pessoa.
Agradeço a toda minha família especialmente minha Avó que amo muito.
Ao Mário Rabelo por ter acreditado neste projeto e me dado toda a ajuda e
atenção necessária para que conseguisse concluir este trabalho.
Aos grandes luthiers Osíres e Márcio que me ajudaram na realização deste
trabalho. Sem eles este trabalho não teria saído do papel.
Aos músicos percussionistas Edinho Silva, Eduardo Mesquita e André
Califa que me ajudaram com a escolha do instrumento.
À Elsa, que conseguiu me aturar ao longo dos anos e mais uma vez me
incentivando neste trabalho.
Aos meus amigos Gustavo, Laurindo, Isnard, Marcos, Irene, Cristiano e
Joselito
À galera da Baladeyra que eu considero como irmãos.
Aos professores da UnB: Ildeu, Joaquim e Cláudio
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Associação Nacional dos Pequenos e Médios Fabricantes de Instrumentos
Musicais – ANAFIM. Projeto do “Programa Setorial Integrado da Indústria de
Instrumentos Musicais do Brasil. Blumenau”, 2003.
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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Timbre>. Acesso em 20/06/2006.

 

Comentários

  1. PARABENS......EXECELENTE POST...eu tambem fiz o meu proprio cajon, e to aprendendo cada vez mais

    parabens
    flavio@playcell.com.br

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